quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Do Atroz ao Apogeu


Demetria & Apogea

Demetria sabia que isso era errado. Mas se era tão errado sentir os lábios de Apogea contra os dela, então não queria saber o que era certo. O conceito de certo muitas vezes lhe soava tão errado e injusto. Tais conceitos se viam distantes em sua mente naquelas noites em que fugiam para o grande banheiro e amavam-se longamente. O mundo parecia parar quando sentia as mãos delicadas de sua amada tocando-lhe.

Sentia que nada podia separá-las, e talvez fosse verdade. Ao menos naquele momento, pois o dia continha uma verdade dolorosa e mortal. Não apenas uma verdade, mas tantas que sufocavam. Nunca poderiam ficar juntas, não naquele local, não naquela vida. Talvez nunca. Era um crime contra a natureza, era terrivelmente errado. Iriam para o inferno por isso. Deus nunca as perdoaria. Mas não precisavam mais dele, não naquele banheiro, não quando se amavam.

O inferno parecia-lhe um local aconchegante e perfeito, onde todos os pecadores uniriam-se para dançar às doces melodias do diabo.

Nunca pensara encontrar sua alma gêmea em um convento, e nunca pensou que fosse outra mulher. Era apenas mais uma tentação, mas como resistir aos seus lábios doces e macios? Sua conexão era divina, diferente de tudo o que sentira antes, era mais que especial. Quando estavam juntas, os ventos pareciam cantar aos seus ouvidos, seu corpo levitava na mais pura leveza.

Ambas foram enviadas àquele local por suas indiscrições, por serem indesejadas por suas famílias recatadas e rígidas, entretanto, nada as impedia de continuar cometendo terríveis pecados.

Terríveis, disse eu? Não há nada errado com o amor. O amor pode se tornar um pecado, mas todos amariam até morrer. Essa é a graça, a terrível e agridoce piada de mal gosto. A sensação de não pertencer a lugar algum, mas sim, querer morrer com alguém e ascender aos céus com ela. Não ao paraíso. Como poderia ser, se seriam expulsas de lá? Ao menos no inferno, em meio a toda dor e torturas, poderiam ficar juntas pela eternidade. Seria isso uma verdade?

Demetria inalava aquele cheiro delicioso dos cabelos de Apogea, ruivos como o fogo ardente dos infernos, seduzentes como mil vaga-lumes em uma noite escura, iluminando seus mais profundos desejos reprimidos. As duas eram uma. Tornaram-se uma naquele pecado abominável e imperdoável.

Cada suspiro podia levar-lhe aos céus, ouvir a voz de Apogea era seu remédio à toda aquela tristeza sem fim, mas também um terrível veneno de vergonha e arrependimentos no dia seguinte. Tinha o poder de curar-lhe, mas de adoecer-lhe lentamente, e era isso o que estavam fazendo.

Adoecendo. Enquanto as mentiras cresciam, estavam cada vez mais doentes. O que Demetria realmente desejava realizar era fugir com sua amada, fugir e nunca mais voltar. Nunca ter a chance de olhar para trás, nem mesmo um lampejo. Mas sonhos não eram mais fortes do que a realidade. E esta realidade é dura.

Apogea era seu único raio de sol, sua última esperança e triste felicidade. Você nunca esquece o rosto de alguém que era tão valioso para si. Era tão valiosa quanto ao ouro, apesar de sua pele ser tão clara e delicada como porcelana, brilhando pelo doce suor. Todavia, ambas sabiam que nada dura para sempre, e conforme o plano divino, deveriam se separar. Algum dia, em alguma pausa de sua pequena eternidade.

Mas simplesmente, aquela não seria a hora.

— Jennifer Dias


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— Se usar um trecho do conto ou desejar postá-lo completo em outro site/plataforma/rede social, por favor, credite-me. Afinal, plágio é crime.
— Imagens encontradas no Google (só editei a imagem de capa).

Beijinhos de chocolate! <3

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